O MEU SER ... SER PORTUGUÊS - Ana Paula Pinto Marques
O Propósito que me levou a concorrer foi o de falar um pouco do meu ser,
pois será no fundo o ser de muitos portugueses, e também a vontade de enaltecer
e relembrar alguns feitos e alguns portugueses ilustres.
Assim começo este texto com uma pequena reflexão sobre o meu eu, que no
fundo será comum a muitos Portugueses.
Há pessoas que não fizeram a primeira classe, outras chegaram à quarta e
outras alcançaram um curso superior e como tal se acham melhores, mas a classe
e o saber é muito mais que isso, rege-se pelos valores que nos são
transmitidos, principalmente pela educação, simplicidade e respeito que cada ser
merece.
O saber não ocupa lugar, aprender até morrer. Todos os dias procuro
inteirar-me de tudo o que me rodeia nas suas diversas vertentes, como muitos
não tive oportunidade de frequentar uma universidade, outros tempos outras
possibilidades, frequentei sim a universidade da vida, o trocar de um livro por
um sacho, plantar, regar e
colher ... quando ainda com oito anos só queria brincar , mas não deixou de ser
gratificante. Todos os dias perco um bocadinho a consultar a minha
enciclopédia, esta vem diretamente do meu coração e da minha alma, uma escrita
pobre e humilde, mas muito minha e só por isso me sinto especial, e em cada
lugar há sempre alguém como uma escola da vida, com muitos talentos especiais e
originais. O que é hoje o Parque de
Santiago em Viseu, onde em tempos foram terras de cultivo, esta foi a minha universidade
... onde aprendi, cresci, trabalhei e fui feliz.
O peso das palavras depende da forma com que são ditas, quando em
posição de ataque elas podem ser arremessadas com dureza e frieza, na primeira
oportunidade a faca é espetada nas
costas sem agravo nem piedade, mas existe sempre o lado bom, estas também podem
ter leveza no seu ser, amor, amizade, humildade, conforto e entreajuda, que
tanto se estende a mão e se espera que ela seja firme e não nos deixe cair no
abismo, por isso faça do seu coração uma ilha onde possam caber todas as
palavras com o sentido do amor pelo próximo e o que de bom a vida lhe possa
trazer.
No meu tempo de escola os que não aprendiam eram apelidados de burros,
hoje diz se que têm défice de atenção, havia os corrécios e os insurretos que
hoje se chamam hiperativos.
Nesse tempo os pais iam à escola e
diziam:" se ele se portar maLpuxe-lhe as orelhas", hoje se o
professor der uma repreensão ao aluno os pais vão à escola bater no professor. Uma negativa num teste, o pai
dizia:" tens que estudar mais" hoje
a culpa é do professor que não sabe
explicar e não poderia deixar de salientar que no meu tempo não havia bullying
... chamavam-me nomes e eu retaliava, hoje fazem se queixinhas e já temos
vítimas de bullying. Mudam se os tempos mudam se as vontades.
Ser Português é escrever estas
breves palavras sem estudos superiores, sem o chamado canudo, mas com a
humildade do que me vai na alma e no coração, é ser eu sem filtros.
Ser Português é ter orgulho de ajudar todo o ser humano sem exceção,
partilhando a minha motivação para que todos abram o coração no seu íntimo no
intuito de romper barreiras dando as mãos aos que mais precisam sem olhar a
raças, credos ou opções.
Ser Português é ter orgulho na
nossa língua desde sempre cantada aos sete ventos, enfrentando gigantes e
tempestades sem que nada nos fizesse parar. Partículas de poemas que se
dispersaram pelas ondas desses mares chegando a novos continentes onde ainda
hoje a nossa língua perdura na imensidão do tempo ... A línguaque eu amo.
Hoje vivemos numa sociedade que nos
sufoca a voz e a razão, onde estás liberdade?
Aparece quero te dar um bom dia, sei que depois de tantos anos ainda não estás
a vontade.
Liberdade vai de cidade em cidade, sobe
ao ponto mais alto e diz aos homens de boa vontade que deixem de se agredir,
física e verbalmente, diz-lhe que os corações são livres de
escolher os caminhos a trilhar ainda que sejam árduos e cheios de espinhos r têm o direito e talvez o dever de os percorrer, sem medos e sem nunca olhar para trás e
sem temer o que possa acontecer. Quem sofre na pele todo o tipo de agressão vive
sempre do medo de que ao virar de uma esquina qualquer, a vida lhe seja roubada e a
liberdade apagada.
Ser Português é refletir se os
nossos atos e gestos serão os mais corretos em prol de um Planeta mais
saudável. A mão humana que cria também é capaz
de destruir, é ser responsável saber que o futuro está nas nossas mãos,
preservando o ambiente olhar em redor e dizer à natureza que é tão bela e que não vamos dar cabo dela.
Diga não à opressão, à perseguição,
à prepotência e à arbitrariedade. Só posso apelidar de desumanidade, crueldade,
atrocidade, impiedade, uma ditadura, um absolutismo, e o que mais revolta é o mundo assistir a tudo
impávido e sereno corno se tudo fosse normal, haverá alguém que possa pôr cobro a
tantas atrocidades? Isto remonta ao tempo do nazismo, um verdadeiro holocausto.
Ser Português é fazer parte de um povo pacifico que em momentos
de guerras e conflitos foi capaz de salvar pessoas de uma morte anunciada por
alguém que julgava ser Deus, falo de um ilustre português de nome Aristides de
Sousa Mendes, que resgatou milhares de pessoas de serem mortas pelo simples
facto de serem judeus.
Sai da tua zona de conforto e procura o teu querer a tua sorte, sim porque a sorte somos nós que a
construímos passo a passo, degrau a degrau, a vida está nas tuas mãos, agarra-a
e não a deixes escapar por entre os dedos.
Acorda que ela não pára, os anos passam e continuas estagnado à espera que a sorte te venha ter a casa. Saí
alarga horizontes vê gente socializa-te e verás que com vontade persistência e determinação
alcançarás os objetivos com que tanto sonhas. Arregaça as mangas e vai sem olhar
para trás.
Ser Português é ter orgulho da cidade onde nasci e vivo, e onde nasceu,
entre outros ilustres, também um grande atleta de nome Cartos lopes que pela primeira vez fez subir ao mastro mais alto a bandeira portuguesa numas
olimpíadas onde o nosso hino foi pela primeira vez tocado.
Ser Português é ter orgulho na
nossa seleção que contra muitos nos tem brindado com grandes vitórias, é ter a
vaidade em grandes atletas que ultrapassam fronteiras como por exemplo o nosso
saudoso Eusébio e atualmente o nosso Crístiano Ronaldo, que nos transporta para
lá dos sonhos ... 0 melhor de sempre.
Somos um povo de emigrantes que trabalham no duro nos países que os
acolhem na procura de uma vida melhor, muitos viveram como escravos,
atravessaram vales rios e montes, alguns sucumbiram pelo caminho tal era a
exaustão. limparam empedraram sabe Deus em que condições, muitos contam ainda as suas mágoas no
silêncio dos seus corações amargurados e sofridos. Para juntarem algum dinheiro deixaram de viver e até de comer, estes sujeitaram-se ao lixo do que para outros era supérfluo e para eles valia ouro (roupas, moveis entre outras coisas).
Lembro-me dos tempos em que os meus pais, como tantos outros, emigraram
para França de salto, levavam na bagagem um punhado de nada e um mundo de
esperança, percorreram vales e montes na procura de uma vida melhor. Quando a
vida melhorou e tiveram a oportunidade de vir a Portugal de férias era
necessário declarar e pagar um imposto sobre os produtos que levavam na bagagem
aquando do regresso ,com os poucos recursos e á boa maneira portuguesa tentavam
camuflar dentro de sacos de feijão uma ou mais garrafas de vinho do porto um
néctar único e tão apreciado pelos franceses, um dos ex-libris do nosso pais
que tanto ajuda a nossa economia.
Somos um país de grande turismo, quem nos visita leva na boca os
paladares inconfundíveis da nossa vasta gastronomia, o famoso bacalhau não
sendo pescado nas nossas águas não deixa de ser um prato muito apreciado por
todos quando confecionado á boa moda portuguesa. Cada roca tem sem fuso e cada
terra tem seu uso, lá diz o nosso povo, assim sendo de norte a sul do país há
uma enorme diversidade de pratos típicos, na minha região (Beira Alta) podemos degustar
o famoso rancho a moda de Viseu, a famosa vitela à Lafões entre outras iguarias.
Não podia terminar sem fazer uma retrospetiva no tempo, recordando o quanto
o nosso do foi cantado e aplaudido por milhões de espectadores que vibraram ao
som magnifico da voz da nossa eterna fadista Amália Rodrigues .serla injusto
não deixar de dar a minha singela homenagem ao nosso também grande fadista
Carlos do Carmo que nos brindou até ao seu ultimo folego com a sua
inconfundível voz e os seus maravilhosos fados que ficarão eternizados.
Uma nova geração de ouro se esta a formar com novos talentos dos quais
se destaca a nossa Marisa, que tem sido uma das grandes embaixadoras do nosso e único fado. E assim se
dá continuidade à voz de um povo, com grandes raizes bem enraizadas, que estas
sejam sempre intocáveis e que perdurem até à eternidade.
Não. Não quero nada que não seja adquirido e suado pelo meu esforço.
Destas mãos que muitas vezes abriram buracos para semear, e já fustigadas e ásperas pela dureza da vida,
lá vinha mais uma tarefa para acabar de completar, era entre ervas bem
crescidas cheias de geada, entranhava as minhas mãos já bem enregeladas e
apanhava a azeitona. Degrau a degrau fui conquistando o meu palmo de terra com
a dureza que me era imposta pelos meus avós, mas não os recrimino, aprendi
muitas lições e valores que me fizeram crescer como pessoa e como mulher,
principalmente o saber estar e saber o meu lugar em sociedade respeitando as diferenças
e ajudando sempre quando o meu coração me alerta. Nada é nem nunca será um mar de rosas, é preciso lutar com as nossas
próprias mãos. Não peço nada em troca, única e simplesmente respeito.
Este é o meu eu, que quer e luta como boa Portuguesa por uma sociedade
mais justa e igualitária pois só assim poderemos mudar o mundo.
Ana Paula Pinto Marques
Obra submetida a concurso
"O Que É Ser Português?"
ENSAIO
Edição 2021
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