Ser Português, é ser do Mundo! - Rui Maia

O território que hoje nos pertence, nos define, foi algo mais, sublime, grafado nas calendas gregas da pré-história, onde os Hominídeos pernoitavam há uns 500 mil anos. Os Fenícios por aqui negociaram, erguendo as suas feitorias, e se por um dia pensaram ser eternos, por coisas dos infernos, abriram brechas aos Cartagineses. Os Celtas misturaram-se com os nativos, entrando pelas friestas desse fantasioso crivo, a miscigenação. O território, terreiro da diversidade, mal sabia da sua inesperada invasão, pelos Romanos com faculdade. Aqui firmaram a sua língua, suas leis e religião, essa forte identidade, a de ser cristão. Porém, como a Torre de Belém, o seu fim deu azo à mistura, e tudo se reduziu a uma folha escura, o obscurantismo, germanos, e muitos mouros, alcançaram este pedaço, e de Norte a Sul deixaram seu traço. Nas Astúrias, como guarda-chuva, neles se escondeu, a futura identidade, a que nasceu. Queríamos reocupar este pedaço de céu, restaurado em 1139, esse reino de Portugal, abalando do Condado Portucalense, a sangue frio e a quente, lá se recuperou a bela parcela. Desde o pitoresco Minho, ao miradouro da Mouraria, dos Algarves, coisa bela. Em 1297, com suas fronteiras plenamente firmadas, Portugal assim mostrou, não gostar de amarras. O céu é o limite, diríamos, “o mar é o limite” e, ao longo dos séculos XV e XVI ao mar revolto corajosos e bravos se atiraram, com instrumentos avançados, por mares nunca navegados - África, América do Sul, Ásia ou Oceânia, uma ou mais conquistas se davam, era a alegoria. O encontro, com seres de cor diferente, costumes nada conhecidos, os fez por momentos pensar: estamos perdidos! Mas não, a coisa foi-se fazendo, e por essas terras, Cruzes se foram erguendo. Não com os jesuítas, levando Deus e trazendo coisas bonitas - o ouro - açúcar - o pau Brasil. Muitas iguarias vieram, alegrar-nos a gastronomia, como as pimentas, o cravinho, noz moscada, lá das índias, nos apimentou as línguas. Levamos africanos para as feitorias, trabalhar por duros dias, e assim nasceu o samba, dessa mistura linda, que gerou momentos de alma. A crise de sucessão, levou Portugal a dar a mão, a Espanha, essa união estranha, que nos fez perder estatuto, por culpa dos holandeses, sempre brutos! Em 1640, Bragança salva este Portugal, parco em esperança. Em 1755, tremeu o reino, Lisboa foi fustigada, parecia o inferno. Mas, invadidos de seguida pelos franceses e vizinhos de Espanha, como quem ceifa com gadanha, ficamos um pouco à deriva, com ligeira dor de barriga. No princípio de Oitocentos, por outros ventos, nascia a primeira Constituição, mercê do velho jugo, do feudo, pois então! Assim, se perdia o doce terreiro do Brasil, essa terra fértil, de riquezas mil. Como um mal nunca vem só, mal ficamos na partilha de África, adotando posição estática, foi posto cerco à monarquia, e assim nascia, a República. Vivia-se um verdadeiro calvário, onde tudo parecia louco, numa crise de salário, verdadeiro alvoroço, que não vislumbrava o fim, desse triste poço, a crise social. Em 1926, dava-se a bofetada, nessa triste madrugada, do desentendimento, nascendo ao relento, a ditadura militar, que nos tratou da pele, até agonizar. Em 1974, nascia a revolução, que dizem do povo, que nos trouxe ao presente. A história aqui narrada, diz-nos tudo, e diz-nos nada. Na verdade, ser português é ser toda essa história, sempre na sua vez. É não ser egoísta, dando continuidade ao seu legado, que nos levando a todo o lado, faz de nós boa diáspora. Não somos feitos de coisa vã, somos aqueles cristãos de Covadonga, aos Judeus que estão por cá. Somos brancos, sem prejuízo para ninguém, onde corre sangue africano, com muito orgulho também. A nossa casa, a casa portuguesa, sabe sempre bem receber, estendendo bem a mesa, amparando o desamparo, desde o vulgar ao mais caro, tudo se rende a ver, o humanismo. Ser português é tudo isso, é ser-se branco, sendo-se mestiço. Temos orgulho nesta nossa casa, a que chamamos Portugal, que se rege por mil valores e heranças, sem nunca nos deixar ficar mal. Somos assim, inquilinos dessa casa - a Nação Valente - que não gosta de troça, para quem conhecer o mundo, boa galhofa. Somos solidários, e por vezes ordinários, se nos pisam o orgulho, ser português de Portugal é mais que tudo...

 

Rui Maia

Obra submetida a concurso
"O Que É Ser Português?"

ENSAIO

Edição 2021


Nota: O texto não foi admitido a concurso final por ter sido entregue fora de prazo.

 

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