Ser português é ser inteiro - Joana Niz Ribeiro | MENÇÃO HONROSA


Ser português é ser inteiro.

É ser rei. É ser povo. É ser escudo erguido no duelo, conquista de castelo, coroa eterna de um obrigado singelo. É ser avental no quadril da varina, pregão solto pelo ardina, foice da ceifeira em plena matina.

É ser rio. É ser mar. É ser tágide escondida, pipa d’oiro embebida, espelho da alma desta vida. É ser herói de hino e epopeia, sargaço deitado na areia, sangue na guelra na maré-cheia.

É ser cidade. É ser serra. É ser peça de azulejo azulada, pedra puída da calçada, pedaço de talha dourada. É ser estrela de neve gelada, laje de xisto imaculada, trilho achado no meio do nada.

É ser terra. É ser ar. É ser pé rijo do laranjal, cereja em bico de pardal, flor renascida no amendoal. É ser nortada numa tarde de verão, balão lançado na noite de São João, vela de moinho em rotação.

É ser fogo. É ser água. É ser vulcão adormecido, milho de desfolhada despido, puro amor desmedido. É ser arte contida na levada, lagoa com toque de fada, cascata que brota da fraga escarpada.

É ser doce. É ser salgado. É ser pastel de nata quente, queijada crocante ao dente, calda de figo efervescente. É ser bolinho de bacalhau na mão, sardinha em brasa de carvão, migas desfeitas de pão.

É ser claro. É ser escuro. É ser casa caiada em arrebol, luz forte de farol, roupa branca estendida ao sol. É ser mel-de-cana encorpado, sombra de sobreiro outrora semeado, xaile aos ombros no silêncio do fado.

É ser livre. É ser preso. É ser garrano sem sela, cravo vermelho na lapela, andorinha de asa negra no beiral da janela. É ser saudade trazida ao peito … aquele aperto que dói … coração desfeito.

É ser grande sendo pequeno.

É ser do antes, do agora, do depois.

É ser da história … com história … pela história.


JOANA NIZ RIBEIRO

Obra submetida a concurso
"O Que É Ser Português?"

MENÇÃO HONROSA - ENSAIO
Edição 2021



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